Acordar com o raiar do sol é muito bonito quando se é fim de semana, pra ir à praia, caminhar, mas pra ficar em casa viajando em pensamentos, não ajuda muito, pois o calor que a pré menopausa me causa não me favorece muito nesses dias lindos, que apesar de lindos, o que quero mesmo é acordar com o barulho da chuva, nada subtendido, só chuva mesmo. Sem pensar muito, só curtir o barulhinho, o cheirinho da chuva, que aliás, dizem os entendidos da ciência, que são bactérias que emitem esse cheirinho tão característico. Benditas bactérias! Mas antes disso tudo, abrir os olhos, e melhor, abrir os olhos e ver do meu lado o meu amor. Tão terno, tão frágil ali dormindo, respirando alto. Tocá-lo assim logo cedo, sentir seu corpo, seu calor, seus pelos... É muito amor envolvido. Depois disso, qualquer dia com chuva ou sol, fica muito mais bonito. Ao me levantar, abro sempre a janela, quero sentir o dia, ver a rua, que geralmente tem cachorros passando, inclusive uma dupla muito interessante, um cachorro manco e um cego. Essa dupla é inseparável e inspiradora. Já acordo pensando no dia todo, tento planejar tudo, mas ao mesmo tempo tento não planejar nada, eu queria mesmo é poder esvaziar a mente e deixar as coisas fluírem, mas é impossível, pois quando não sou eu quem planejo, outros planejam por mim. Depois, as coisas de higiene, e ao abrir a porta, ele, o meu melhor amigo Pepe, o príncipe! Sempre ali, me esperando, balançando seu rabo enorme, com aquele "olinho de pidão" dizendo: - Me cuida?! Em seguida, elas, minhas razões de viver, minhas preciosas, as que habitam meus pensamentos 24 horas por dia, as que me impulsionam pra frente sem nenhuma chance de desistir, minhas filhas. Cada uma com sua particularidade, tanto sono, tanta despreocupação... Que saudade desse tempo! Por isso, muitas vezes faço vista grossa pra preguicinha delas. Não pude muito curtir preguiça. Por isso valorizo hoje cada minutinho atoa que passo.
O dia geralmente passa rápido, como diz meu amado, é muita gente, muita coisa pra fazer. Mas que seria de mim sem essa gente toda? Eu sou resultado do que elas me transformaram, se gostam de mim é porque sou elas, então...
A rotina pra mim é algo bom, mas as vezes salta no peito aquela vontade imensa de viajar, de sair por aí, que um dia vou poder realizar, pois minhas filhas já estão grandinhas e meu amado compartilha desse meu desejo. Mas a realidade no momento é outra. Trabalho, trabalho e mais trabalho, tando da minha parte quanto do meu amado. Mas um dia, um dia vamos realizar nosso desejo. E por falar em trabalho, o meu nem é tão difícil, o difícil mesmo é a convivência com os colegar, pois o ambiente não ajuda muito. É todo mundo aglomerado, parece aquelas salas de telemarketing, que todo mundo fala ao mesmo tempo, reparam em tudo, especulam a vida de todos, mas dizem que são discretas e educadas. Tem cada uma colega... o som dos saltos batendo no segundo andar é de praxe, a porta da frente que sempre teve problema de molas e quase arrancou dedos e que nunca tem dinheiro pra consertar e sua batida inconfundível, as portas dos banheiros rangindo que sempre coloco óleo, pois não suporto esse barulho que ninguém mais ouve, ou fingem não ouvir, o cheiro de barata na segunda feira, a euforia da sexta-feira que todo mundo esconde, mas que pelo sorriso aflito no fim do expediente não dá pra esconder, os olhares no relógio, o esfregar de mãos ansiosos, os tiques de piscadela aumentam, as olhadas rápidas em direção à porta, e a inevitável expectativa de um fim de semana de descanso. Eu só querendo ficar em casa, dar uma faxina, lavar as roupas, o banheiro, molhar minhas plantinhas, que por sinal não estão muito bem, devido a um fungo que veio de uma planta da casa do meu pai, um antúrio muito bonito, mas que infelizmente passou a doença para as outras plantinhas, o que me frustra muito, pois dá a impressão que não sei cuidar delas. O interessante que as vezes tenho a mesma frustração em relação a minha família, mas deixa pra lá.
A frustração diária é comum pra todo mundo, mas as vezes eu acho que pra mim é pior. Não sei se o peso da carga inútil do meu passado me influencia, mas eu penso que sim. Não entendo muito bem a diferença entre lembrar o passado sem querer e o passado se fazer lembrar nas minhas decisões equivocadas, mas sei que eu procuro não lembrar e nem agir de forma que me lembre, mas as vezes é inevitável. Em tudo, vida sentimental, profissional, pessoal, em tudo o passado se faz lembrar, pois faz parte de mim da minha história. Mas sinceramente muita coisa eu esqueci, apaguei, mas quando algo parecido acontece, vem o dejavu, e pronto! Vem tudo à tona. Aí já era, quando vejo já tô estragando tudo. Mas de verdade, eu não queria ser influenciada por ele, somente lembrar do que aprendi com ele. Estou em processo de aprendizado ainda, mas chego lá se Deus quiser! Eita passado!
Em fim, acordar de manhã e viver a vida. Parece simples, mas na verdade não é. Vai se tornando simples a medida que o tempo passa e substitui as coisas de maneira invisível e indolor, e a gente tão acostumado a sofrer, acaba inventando coisas e complicando tudo, acho que é pra ter mais emoção, pois ser humano é isso, humano... cheio de falhas e sonhos, quando tá tudo bem inventa alguma coisa pra piorar, e quando tá tudo ruim inventa alguma coisa pra dar a volta por cima e recomeçar de forma surpreendente. É, somos criaturas surpreendentes. Aprendi uma palavra que nos define bem, Resiliência, que palavra bacana essa! Me define bem, Tomara que continue assim. Peço a Deus todos os dias pra me dar força e saúde, pois tenho medo de desistir e morrer. Mas tenho fé que isso não vai acontecer, nem desistir e nem morrer. Quero ser exemplo pras minhas filhas de perseverança e ficar na memoria delas bem viva, que elas nunca se esqueçam de mim e se lembrem sempre com carinho e respeito. Esse será o meu legado, ser uma mãe inesquecível, deixar muitas lembranças boas e muitas histórias pra contar. Se a vida é plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro eu tô quase lá.
Minha escritora preferida!
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